e, então, ela descobriu o que queria- embora não soubesse se era da ordem do desejo ou da necessidade. como Ela não sabia o que era desejo?! mas, naquele momento, aquilo que queria ela percebeu: alguém que a contivesse, lhe desse nome e forma, alguém que pudesse lhe ver nua, do mesmo modo como, às vezes, o espelho a espiava... como Ela, que teimava em querer sempre abraçar o mundo, pedia e chorava por um abraço?! e ela se via assim: uma menina perdida, pedindo por uma mão que lhe guiasse, por pernas que a sustentassem, por um colo onde pudesse sentir um pouco de paz. e lembrou, então, ao se ver assim, que a descoberta se deu à noite, quando, subitamente, aquela sensação a acordou... ela, que sempre via tudo mas nunca era olhada, percebeu o quanto as coisas a afetavam (mas não viu que estas também era afetadas por ela). não sabia muito bem o que havia acontecido, mas aquela sensação ruim a surpreendeu justamente por ser uma surpresa, algo que fugiu do seu controle de fazer as coisas acontecerem- e ela sorriu (um sorriso que parecia um choro seco). ela queria vomitar, pôr para fora aquilo que ela estava cansada de guardar para si; mas percebeu que o que sentia era muita mais uma vontade de voar, cair e gritar do que de vomitar ( esse era o significado da tontura que a acompanhava e que, dessa vez mais forte, a acordou naquela noite). ela tentou chorar, mas não conseguiu: não conseguiria criar nada naquele momento, nem lágrimas, nem palavras, nem um sentido... e descobriu o que há tempos se recusava a ver: que existem coisas impossíveis de serem ditas...
-por que eu nunca falo o que eu quero dizer?