28 junho 2006

"O amor nunca termina de exprimir-se e se exprime tanto melhor quanto mais poeticamente é sonhado. Os devaneios de duas almas solitárias preparam a doçura de amar. Um realista da paixão verá aí apenas fórmulas evanescentes. Mas não é menos verdade que as grandes paixões se preparam em grandes devaneios. Mutilamos a realidade do amor quando a separamos de toda a sua irrealidade."

Gaston Bachelard, "A poética do devaneio".
não estou conseguindo olhar para além do que me ocupo, não estou tentando pré-ver aquilo que eu não sei aonde vai dar. só, quero voltar a ver aquilo que eu não sei. cansei disso tudo que, simplesmente, é.

21 junho 2006

"(...) o que resta é o ato heróico do desafio contra o destino e a natureza. A condição do homem é essa luta, a despeito do fracasso. A redenção vem da beleza produzida pela consciência da condição trágica. (...)"

Bernardo Carvalho
Ilustrada_ Folha de São Paulo_ 20/06/06

20 junho 2006

estava procurando por um sopro de vida. queria me surpreender novamente com a coerência das coisas, (re)descobrir aquilo que não se vê quando o que se quer é ver as coisas simplesmente passarem. tentava lembrar das vezes que a vida apareceu, das vezes que tudo se deu tão claramente que desviei os olhos, obrigada a ver com a não-razão. recorri à minha memória, às minhas questões e, por que não?!, às minhas respostas (embora elas me mostrassem sua própria fragilidade). lembrei, então, dos momentos em que eu mais senti a vida, das vezes em que eu vivi a morte mais de perto... a morte desnuda a vida, arranca todas as suas vestes e leva consigo parte da sua pele, expondo o que se quer esconder- o pudor, o medo, o ódio, o desejo bruto, o nada. nada... nada... lembrei de quando, menina, eu me forçava a sentí-lo (o nada): fechava os olhos, destruía o meu redor, meu bairro, minha cidade, estado, país, continente, mundo, galáxia e me excitava ao sentir a vertigem do vazio, que me mostrava o absurdo das coisas. eu queria chorar, fugir do abismo, mas não conseguia fugir da vontade de não-sentir: e continuava o exercício de acabar com tudo. estava procurando por um sopro de vida e me lembrei que, aquilo por que eu procurava- o sentido da vida, era um sentimento. estava querendo, então, desviar os olhos, me obrigando a enxergar com a não-razão.

11 junho 2006

No meu quarto deixei as lágrimas
E o desencanto
Carreguei comigo a minha solidão
As cores mudaram de tom
E as luzes cegaram minha vista
Passo um passo
Mas eu não encontro o chão
Pois ainda estou a sonhar
Com você a me beijar
Perdi os sentidos
Não tenho mais direção
Todos os caminhos
Me levam à oração
Ah, desencanto
Ah, desencanto

ouvindo Mombojó_"Desencanto"

09 junho 2006

e depois de ver crua, a carne, ela só queria sentir na pele.

05 junho 2006

"Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo."

Pessoa, F.