29 abril 2007

Essa informação me impressionou: hoje existem aproximadamente 6,5 bilhões de rostos no mundo. Se parássemos para olhar, por um segundo, para cada um, demoraríamos 207 anos, sem dormir... Multidão: quantas histórias, quantos caminhos, quantas possibilidades.... Quantos mundos! Muitas guerras, muitos encontros, tantos confrontos, tantas comunhões. Habitamos um mesmo mundo, que são vários, com suas intersecções e suas falhas de comunicação. Diversas vozes, diferentes olhares, inúmeras feições esculpidas em milhões de rostos que pedem, querem, temem e expressam o que parece tão particular mas é tão comum. Rostos querem ser olhados- por mais de um segundo- querem ser mirados, querem ter a quem perguntar o que se sabe que não tem resposta... Parte do mundo, está o meu mundo- e esse blog dele faz parte há um ano. De alguma forma, abri uma porta do meu mundinho, para mim e para quem o olha. Não sei para quem falo, não sei quem o lê, mas sei que eu preciso dizer. Muitas vezes, aqui, digo para mim o que eu preciso escutar ou o que eu não quero falar; outras falo para um rosto em particular, que me toca ou deixa de me tocar; outras, para um outro distante tão íntimo que o seu rosto some por estar tão próximo de mim... Escrever é dizer e escutar. É mostrar o rosto para outros rostos, para olhar e ser olhado.
Leia-me, silencie-se, grite, encontre-me, discorde, perca-me, mas ouça:
Olhe, olhe para mim!
(Ser-eníssima: ser-infinitos-rostos-nesses-mundos-por-aí)

26 abril 2007

Dorme, menina
Que com o sono, o sonho vem
Sossega o cansaço do corpo
Que a noite traz o conforto
Ao lhe dar um abraço
Devolvendo o que de dia
Você acha que perdeu

Assim, no escuro da noite
Você volta a ser forte
Por perceber que a sorte
Está nos braços seus

Sossega, menina
Que um segredo da vida
Você já percebeu:
De dia, é preciso a vigília
E de noite, a calmaria
Para você voar longe
Para onde seu coração
prometeu

25 abril 2007

Brincadeira de criança

Ele caminhava quando a mirou. Olhou ao redor, estava sozinho e queria brincar. Tocou-a e correu: esperava que o atendessem, mas não queria estar lá, não poderia ser visto: a emoção estava em fugir, sem olhar pra trás...

23 abril 2007


23 de abril
Dia de reverenciar Ogum:
Orixá das guerras que usa a espada para se defender, não para ferir
Salve São Jorge guerreiro! Saravá Ogum! Ogunhê meu pai!


Ai ai meu santo
meu santo São Jorge
se tu mora na lua
a lua é tua
a lua é tua
a lua é tua

Lumiai meu santo
meu santo São Jorge
meus tristes passos na rua
na minha rua
na escura rua
escura rua

Coroai meu santo
meu santo São Jorge
minha alma nua e crua
minha alma nua
minha alma nua
minha alma tua

Ai ai meu santo
meu santo São Jorge
se tu mora na lua
a lua é tua
a lua é tua
a lua é tua


São Jorge Bendito
Zeca Baleiro






21 abril 2007





Awareness





'O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
Aqui, onde indefinido
Agora, que é quase quando
Quando ser leve ou pesado
Deixa de fazer sentido
Aqui, onde o olho mira
Agora, que o ouvido escuta
O tempo, que a voz não fala
Mas que o coração tributa
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
Aqui, onde a cor é clara
Agora, que é tudo escuro
Viver em Guadalajara
Dentro de um figo maduro
Aqui, longe, em Nova Deli
Agora, sete, oito ou nove
Sentir é questão de pele
Amor é tudo que move
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
Aqui perto passa um rio
Agora eu vi um lagarto
Morrer deve ser tão frio
Quanto na hora do parto
Aqui, fora de perigo
Agora, dentro de instantes
Depois de tudo que eu digo
Muito embora muito antes
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora'

"Aqui e Agora"
Gilberto Gil

18 abril 2007

O vazio vazando, ácido
Corroendo aquilo que corre
Esperando escapar do que suga
Surgindo em segundos
Seguindo, cegando
O instante instantâneo, rápido
Ilusões que morrem e matam
O momento vivo que vai
Virando o vazio que vaza
Vivendo no raso
O tempo, ávido

15 abril 2007

- Um coração que anda em direção a uma memória sonhada de um tempo vivido que some e aparece a cada instante. A foto que surpreende ao mostrar como as coisas vãs ficam e como aquele sorriso pode trazer agora só uma dor serena que faz ranger a garganta... Sob o luar de uma noite abafada e tão nossa, capaz de transformar uma lágrima de alegria em uma tristeza bonita e incômoda... Um momento irreal, como tudo o que é hoje... A luz do luar e um copo de café na mão para esquentar um estômago frio e um coração que só pode bater mais rápido... Mãos dadas, caminhos incertos para atravessar uma cidade tão silenciosa e vazia, como minha respiração contida e seu olhar que me atravessa e me entra e me deixa louca para descobrir minha loucura que me faz negar teu querer e o meu desejo de construir um mundo que já habita o meu corpo... Meus sonhos vãos e seu riso ao ouvi-los, como se já os conhecesse... e os meus sonhos são o seu presente para mim...

- Me dando um mundo, você me tira do seu. E eu não recuso porque quero aceitar o que você tem para me dar. Eu tenho um segredo que não posso revelar, não posso te dar um mundo, não quero isso! O seu mundo é seu e o meu é esse... tão triste que eu preciso colorir. Você percebe isso e usa as tintas que tem... Mas nele você não entra e não pinta, só olha, de longe, com seus olhos infantis que acreditam num mundo tão mais bonito que o meu. Não preciso de você para conhecer meus sonhos, eles já estão comigo e você não percebe... E o meu mundo some sob seu olhar que, ao tentar me revelar, tira minha pele junto com a minha roupa e me tira de mim - para tentar me dar um mundo que não é meu... Só, é seu...

12 abril 2007

René Magritte
"The Therapist", 1937

08 abril 2007

"Sabe querer quem sabe imaginar.
À imaginação que ilumina a vontade
se une uma vontade de imaginar,
de viver o que se imagina."

Gaston Bachelard
texto retirado da "Clareira da existência"

07 abril 2007

Pra falar verdade, às vezes minto
Tentando ser metade do inteiro que eu sinto
Pra dizer às vezes que às vezes não digo
Sou capaz de fazer da minha briga meu abrigo
Tanto faz não satisfaz o que preciso
Além do mais quem busca nunca é indeciso
Eu busquei quem sou, você pra mim mostrou
Que eu não sou sozinha nesse mundo

Cuida de mim enquanto não esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo, enquanto fujo

Basta as penas que eu mesmo sinto de mim
Junto todas crio asas viro querubim
Sou da cor do tom, sabor e som que quiser ouvir
Sou calor, clarão e escuridão que te faz dormir
Quero mais, quero a paz que me prometeu
Volto atrás se voltar atrás assim como eu

Busquei quem sou
Você pra mim mostrou
Que eu não estou sozinho nesse mundo

Cuida de mim enquanto não esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo, enquanto fujo


"Cuida de Mim"
O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli

05 abril 2007

Um redondo vazio,
A Lua:
Que olha e demora
De longe
Com compaixão
Para um coração
Que quer ser seu,
Ó céu!

Na noite escura,
A Lua:
Que brilha e aponta
Para um buraco
Que engole
Tudo, tudo, tudo

A Lua:
Que rege e pede
Por um olhar
Que enxergue
O tamanho da dor
De Ser um arrombo
No céu estrelado
Que grita
Um estrondo
Ao longe,
de longe,
tão longe...