28 julho 2006




pés no chão,

cabeça no alto

27 julho 2006

falta-me ar, inspiração!
a ausência se apresenta, única
desencontros eu encontro
ao caminhar, à espreita, atrás da porta, pelo buraco da fechadura
me escondo, esperando que me encontrem
as palavras não me fazem sentido
hoje, não sei dizer nem quero falar
inspiração, cansei de esperar.

17 julho 2006

Como de costume, habitar outros mundos era pelo que ela ansiava e esperava por uma mão para guiá-la por aí... Ela imaginava como seria quando encontrasse aquele lugar, aquele cheiro, aquele sabor. Ela conseguia imaginar como seria, ela sabia sonhar. "Somos sempre tentados a limitarmo-nos a sonhar", ele disse. Ela achou bonito (ela, ao lado dele, conseguia ver a beleza das coisas)...
Ela estava animada, um ânimo diferente de quando deitava a cabeça no travesseiro e vivia o mundo que ela mesmo criava. Quando olhou-se no espelho, sentiu uma familiaridade com aquilo que viu, sentiu que aquele era o seu lugar. O seu corpo era o mundo que podia habitar, e só. Aquele corpo era o seu lugar no mundo.
A mão que poderia guiá-la era a dela: ela poderia tocar as coisas, alcançá-las, sentir suas formas e temperatura. Suas mãos poderiam criar, ferir, acarinhar, destruir. Ela via e sentia com as mãos: elas tinham olhos, tato, línguas, audição; elas farejavam para saber onde se segurar e do que fugir; apontavam para seus pés, mostrando que eles poderiam levá-la para além-mundo.
Andando, ela passou a tatear para encontrar mãos que não a guiassem, mas que provocassem seu encontro com o mundo- que era esse, só.
POR UM LINDÉSIMO DE SEGUNDO

tudo em mim
anda a mil
tudo assim
tudo por um fio
tudo feito
tudo estivesse no cio
tudo pisando macio
tudo psiu

tudo em minha volta
anda às tontas
como se as coisas
fossem todas
afinal de contas

Leminski, em "distraídos venceremos"

16 julho 2006

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar.

Quero assistir o sol nascer,
Ver as águas dos rios correr,
Ouvir o pássaros cantar,
Eu quero nascer, quero viver...

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar.

Se alguém por mim perguntar,
Diga que eu só vou voltar
Depois que eu me encontrar...

Quero assistir o sol nascer,
Ver as águas dos rios correr,
Ouvir o pássaros cantar,
Eu quero nascer, quero viver...

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar.

Cartola_Preciso me encontrar

10 julho 2006

Hoje a natureza teve uma crise de choro, dessas que lava a alma. Eu gosto de chuva, da mesma forma que eu gosto do calor e do frio também. Eu preciso de ciclos. Preciso sentir minha ovulação, minha tensão pré-menstrual, minha menstruação e a sensação que vem depois dela.
Lembrei do filme “Primavera, verão, outono, inverno e... primavera”, do diretor coreano Kim Ki-Duk. É um filme bonito, permeado pela filosofia zen-budista, que conta a história de um monge-aprendiz que vive com seu mestre num templo flutuante e, sincronizado à natureza, vai lidando com seu crescimento e aprendizado. A fotografia é linda e o enredo é bonito por ser simples: por mostrar a violência, o desejo, o medo, o amor com a mesma naturalidade que mostra os ciclos da natureza.
A natureza é mulher: é fértil, é regida por regras, tem a potência criativa latente e precisa do homem para fecundá-la. A mulher tem sua natureza: é frágil, é forte, sabe cuidar e precisa ser cuidada. Ser mulher, naturalmente, é sentir e viver os ciclos da sua natureza.

08 julho 2006

"Há certas presenças que permitem a transfiguração"

(Clarice Lispector, em "Perto do coração selvagem")

05 julho 2006

Uma das primeiras coisas que fui foi ser filha de Iemanjá. Nasci Marina morena do Caymmi, Marina do mar. Sou filha da cidade grande, cidade do concreto, da solidão no meio da multidão. Mas uma das primeiras coisas que fui foi ser filha de Iemanjá: rainha generosa das águas, deusa da fecundidade, fertilidade, transformação, amor. Tenho um respeito e um fascínio pelo mar que me arrepia a pele quando coloco o pé na areia. O mar me inspira, me ensina a ter paciência, me faz acreditar na minha força. Mesmo no meio do concreto, o que me rege é a vibração do mar...
Odoiá Iemanjá!
... saudades do Mar.

04 julho 2006

não tenho tido muita vontade de escrever.
estou preocupada, eu sei, mas não sei com o quê eu ando me ocupando. vou para lá, volto pra cá, arrumo meu guarda-roupa, ouço algumas músicas, faço umas listas do que eu preciso e quero fazer, mas mesmo assim não me contento, não sei o que é!
algumas conversas, alguns esclarecimentos, vagas lembranças... sonhos?! poucos...
durmo até tarde, quando acordo não sei o quê vestir, quero ir até aí- mas não hoje.
apareço, vejo que as coisas estão iguais, pouca coisa mudou: algumas histórias diferentes, mas os mesmos dramas.
o ar está seco, o vento gelado e minhas mãos, frias.
"faz tempo que eu não choro", pensei antes de dormir.

e, quando acordei, estava com minha garganta doendo.