27 abril 2008

22 abril 2008


Marina cadê a flor que arranquei pra lhe ofertar?
Marina cadê o amor que ocê tem e não quer me dar?

E ela foi embora levando poeira
E à minha maneira eu tento viver
Tocando a viola um pouco mais triste
Se alegria existe, Marina cadê?

Se a alegria existe
Teresa Cristina e Grupo Semente

imagem: Girassol, Gustav Klimt

08 abril 2008

"até que viesse uma justiça um pouco mais doida. uma que levasse em conta que todos temos que falar por um homem que se desesperou porque neste a fala humana já falhou, ele já é tão mudo que só o bruto grito desarticulado serve de sinalização. uma justiça prévia que se lembrasse de que nossa grande luta é a do medo, e que um homem que mata muito é porque teve muito medo. sobretudo uma justiça que se olhasse a si própria, e que visse que nós todos, lama viva, somos escuros, e por isso nem mesmo a maldade de um homem pode ser entregue à maldade de outro homem: para que este não possa cometer livre e aprovadamente um crime de fuzilamento. uma justiça que não se esqueça de que nós todos somos perigosos, e que na hora em que o justiceiro mata, ele não está mais nos protegendo nem querendo eliminar um criminoso, ele está cometendo o seu crime particular, um longamente guardado. na hora de matar um criminoso- nesse instante está sendo morto um inocente. não, não é que eu queira o sublime, nem as coisas que foram se tornando as palavras que me fazem dormir tranquila, mistura de perdão, de caridade vaga, nós que refugiamos no abstrato. o que eu quero é muito mais áspero e mais difícil: quero o terreno."
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trecho do texto "Mineirinho", de Clarice Lispector, em "Para não esquecer"