29 maio 2007

olhos insanos
me tiram do sono
de sonhar acordada
me criam no espaço
me tiram um pedaço
me dilatando
e dilacerando
o que quer caber
em mim

28 maio 2007

Troca o fusível
Torna possível
A luz

Tudo que reluz é hora:
O agora chama
A carne viva
(que conhece a farsa)

Pega a faca
Corta a mágoa
Mata o sonho
E faça:
O Aqui

26 maio 2007

O seu olhar lá fora
O seu olhar no céu
O seu olhar demora
O seu olhar no meu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu

Onde a brasa mora
E devora o breu
Como a chuva molha
O que se escondeu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu

O seu olhar agora
O seu olhar nasceu
O seu olhar me olha
O seu olhar é seu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu


O seu olhar- Arnaldo Antunes

21 maio 2007

No meu peito oco
Ouço
Um soluço
Sambando
Sedento
De água
E ressaca
De tanto chover

20 maio 2007

No cio
No ócio
Nocivo
Sentia só
Uma dor risível:
O amor

16 maio 2007

vara o dia
varrendo a noite
cata um sonho
sonha um vento
algo que fique
por pouco
por muito pouco
um cisco que seja
algo que signifique

Alice Ruiz
em VICE VERSOS (1988)

14 maio 2007

como matar os fantasmas
se eles já estão mortos?

11 maio 2007

Debaixo dágua tudo era mais bonito
mais azul mais colorido
só faltava respirar
Mas tinha que respirar
Debaixo dágua se formando como um feto
sereno confortável amado completo
sem chão sem teto sem contato com o ar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Debaixo dágua por encanto sem sorriso e sem pranto
sem lamento e sem saber o quanto
esse momento poderia durar
Mas tinha que respirar
Debaixo dágua ficaria para sempre ficaria contente
longe de toda gente para sempre
no fundo do mar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Debaixo dágua protegido salvo fora de perigo
aliviado sem perdão e sem pecado
sem fome sem frio sem medo sem vontade de voltar
Mas tinha que respirar
Debaixo dágua tudo era mais bonito
mais azul mais colorido
só faltava respirar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia

Debaixo d'água
Arnaldo Antunes

10 maio 2007

O vento leva
E destrói
Os limites
Translúcidos
Da bolha
Que voa
E se desfaz
Ao tocar
O chão



09 maio 2007

Poeta
Penetra
Na fresta
Toca
A aresta
Mantém
Ereta
A espinha
Inquieta

07 maio 2007

Desejo que reluz e não acende
Um corpo sem brilho, opaco
Mantendo-o intacto
No interior de um templo abandonado
Que dá a luz aos sonhos
Vívidos no breu
Onde se protegem e pedem
Para não serem encontrados
Para serem iluminados
Pelo desejo que incorpora
Dando a vida
Numa cidade lúcida
Onde vive a morte
Que dá o norte
Ao que brilha e grita
Num corpo que deseja
Dar a luz
Segue o teu destino
Rega as tuas plantas
Ama as tuas rosas
O resto é a sombra
De árvores alheias

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios

Suave é viver só
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses

Vê de longe a vida
Nunca a interrogues
A resposta está além dos deuses

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração
Os deuses são deuses
Porque não se pensam

Segue o teu destino
(Sueli Costa sobre "Para ser grande", poema de Ricardo Reis)

03 maio 2007


Poesia de Alice Ruiz
Desenhos de Leila Pugnaloni
em Rimagens (1985)

02 maio 2007

DESCOBERTA

Depois de ser descoberta e passar frio, descobriu:
Deveria vestir as suas roupas e ir...