28 setembro 2006

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em um cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la,
isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela,
isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro.
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.


Antônio Cícero

26 setembro 2006

25 setembro 2006

Viagem no tempo
Como há tempos eu estava na importância do lugar, deste lugar percebo o sentido do meu tempo
Meu tempo, porque existem vários...
Assim como meu espaço sou eu, minha temporalidade me faz por ser feita por mim
Apropriar-se do lugar é estar no corpo próprio e suas extensões, difíceis de se limitar
Apropriar-se do tempo (ou temporalidade, pensando-se em processo) é estar no próprio instante, considerando o registro do tempo 'em mim' e a percepção do 'meu' estilo de 'movimentar-me' aqui e aí
Movimentar-se implica extensão- ao longo do espaço e duração- no passar do tempo, dos inícios aos términos
O sentimento do tempo é a percepção de limites, dos pedidos do corpo, do momento de ir e voltar, de começar e terminar, de querer (ou não)
Sentir o meu tempo é eu me ver INDO o meu movimento

22 setembro 2006

o trem passa e ela fica
sentada na beira dos trilhos
esperando pelo trem
o trem passa e ela fica
ruminando com os bichos
"que barulho faz esse trem!"
... Tambor, tambor,

Vai buscar quem mora longe;

Tambor, tambor,

Vai buscar quem mora longe:

Vai buscar Oxóssi na mata,

Xangô lá na pedreira,

Yemanjá na beira d'água

e Oxum na cachoeira...

20 setembro 2006

19 setembro 2006

Minha tentativa de redução eidética, essa busca pelo irredutível, essencial, pelo permanente da impermanência é, somente, um mecanismo de defesa. Qual a função da abstração? Cansaço...
Eu quero a concretude, a experiência, o singular, o sujo que não é polido, tudo ao redor do núcleo...
Sabe, essa história de SER cansa mesmo...


"O nome dela é...
Tha, tha, tha, tha, than..
Miss Lexotan
Lembrei o nome...
Ela não consegue relaxar..
Ela não consegue nem, nem ao menos dormir
Ela é tensa só porque seu amor não vive em São Paulo,
Nem em Porto Alegre,
Em lugar nenhum
(...)"

Ira!- Miss Lexotan- 6mg- Garota!

16 setembro 2006

- você ainda vai descobrir que o ali em frente e heróis não existem, mas que pode voar e fazer do mundo o seu quintal... e que, para ser, é preciso gritar...
Sabe, gente
É tanta coisa pra gente saber
O que cantar, como andar, onde ir
O que dizer, o que calar, a quem querer

Sabe, gente
É tanta coisa que eu fico sem jeito
Sou eu sozinha e esse nó no peito
Já desfeito em lágrimas que eu luto pra esconder

Sabe, gente
Eu sei que no fundo o problema é só da gente
É só do coração dizer não quando a mente
Tenta nos levar pra casa do sofrer

E quando escutar um samba-canção
Assim como
Eu Preciso Aprender a Ser Só
Reagir e ouvir
O coração responder
Eu preciso aprender a só ser


Preciso aprender a só ser (Gilberto Gil)

14 setembro 2006

A luz que cega


Tá tudo tão claro
que queima os olhos
ofuscando a visão
TÁ TUDO ACESO EM MIM
TÁ TUDO ASSIM TÃO CLARO
TÁ TUDO BRILHANDO EM MIM
TUDO LIGADO
COMO SE EU FOSSE UM MORRO ILUMINADO
POR UM ÂMBAR ELÉTRICO
QUE VAZASSE NOS PRÉDIOS
E BANHASSE A LAGOA ATÉ SÃO CONRADO
E GANHASSE AS CANOAS
AQUI DO OUTRO LADO
TUDO PLUGADO
TUDO ME ARDENDO
TÁ TUDO ASSIM QUEIMANDO EM MIM
COMO SALVA DE FOGOS
DESDE QUE SIM EU VIM
MORAR NOS SEUS OLHOS


Âmbar, Adriana Calcanhoto

12 setembro 2006


se tudo passa, o que eu fico?

05 setembro 2006

Sobre o entre/ A ponte

Entre o ser e o não-ser
está o que É
Entre o que foi e o que será
está o Presente
Entre duas notas musicais,
o silêncio fazendo a música
Os passos fazem um caminho
passando pelo o que não foi passo
Um encontro é o espaço
que não mais quer ser
espaço, ex-paço
O encontro é a distância
entre (algumas) ilusões
_ ... _

'Como é que faz pra lavar a roupa?
Vai na fonte, vai na fonte
Como é que faz pra raiar o dia?
No horizonte, no horizonte
Este lugar é uma maravilha
Mas como é que faz pra sair da ilha?
Pela ponte, pela ponte
A ponte não é de concreto, não é de ferro
Não é de cimento
A ponte é até onde vai o meu pensamento
A ponte não é para ir nem pra voltar
A ponte é somente pra atravessar
Caminhar sobre as águas desse momento
A ponte nem tem que sair do lugar
Aponte pra onde quiser
A ponte é o abraço do braço do mar
Com a mão da maré
A ponte não é para ir nem pra voltar
A ponte é somente pra atravessar
Caminhar sobre as águas desse momento
Nagô, nagô, na Golden Gate
Entreguei-te
Meu peito jorrando meu leite
Mas no retrato-postal fiz um bilhete
No primeiro avião mandei-te
Coração dilacerado
De lá pra cá sem pernoite
De passaporte rasgado
Sem ter nada que me ajeite
Coqueiros varam varandas no Empire State
Aceite
Minha canção hemisférica
A minha voz na voz da América
Cantei-te'

(Lenine, A ponte)

03 setembro 2006