“(...) Parece que a espera faz o vazio em nós, que prepara a retomada do ser, que ajuda a compreender o destino; numa palavra, a espera fabrica localizações temporais para receber as recordações. Quando o acontecimento claramente esperado sobrevém - novo paradoxo-, ele nos aparece como uma clara novidade. Nada se passa como havia sido previsto; o acontecimento vem assim ao mesmo tempo satisfazer e frustrar nossa espera, justificar a continuidade da localização racional vazia e impor a descontinuidade das recordações empíricas. Todos os que sabem desfrutar de uma espera, mesmo ansiosa, reconhecerão com que arte ela urde o pitoresco, o poético, o dramático. Ela faz o imprevisto com o previsto. (...) A espera, ao escavar o tempo, torna o amor mais profundo. Ela coloca o amor mais constante na dialética dos instantes e dos intervalos. Dá a um amor fiel o charme da novidade. Então os acontecimentos ansiosamente esperados se fixam na memória; adquirem um sentido em nossa vida. As grandes recordações são assim o desfecho do drama de um dia, de uma hora. São a recompensa de uma recusa prévia a viver outra coisa além do que aquilo que se deseja. É adiando as ações medíocres, obstinando-nos em prever o imprevisível, que nos preparamos para ser ricamente contraditados pela felicidade. Contradizendo-nos, o acontecimento se fixa em nosso ser. A assimilação dialética é a própria base da fixação de nossas recordações. Não há memória acidental sem um drama inicial, sem uma surpresa dos contrários”.
Gaston Bachelard, em “A dialética da duração”, pág. 49.
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Um comentário:
"São a recompensa de uma recusa prévia a viver outra coisa além do que aquilo q se deseja" essa é a melhor parte de tds... E nao é isso q eu fiz minha vida inteira?
Realmente, esse é daqueles textos q a gente gosta...
E, por isso, eu te digo: Chega de espera!! Ta na hora de, nos duas, nos jogarmos na vida!
(comentario gde e auto-referente, hein?)
Bjo
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